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@alberto em 17/05/2019
O melhor jeito é calcular a evolução do dividendo ao longo de vários anos, junto com a evolução do lucro e do payout (quanto do lucro é distribuído como dividendo). Vamos lá:
Existem alguns pontos que valem a pena serem analisados para julgar a qualidade dos dividendos de uma empresa:
- Os lucros são suficientes para cobrir os dividendos?
- Os lucros são estáveis o suficiente para cobrir os dividendos em meio a variações de curto prazo? Caso não, a empresa tem acesso a outros recursos para financiar o dividendo?
- Os lucros são duráveis o suficiente para cobrir os dividendos num futuro previsível?
- A diretoria, além de ter a capacidade, tem o desejo de manter o pagamento dos dividendos quando a situação aperta?
1. Os lucros são suficientes para cobrir os dividendos?
Dividendos são atraentes. Implícito no pagamento do dividendo vem a sensação de que a companhia continuará pagando pelo menos a mesma quantidade no futuro.
Porém, os dividendos devem vir de algum lugar, e esse lugar são os lucros.
Lucro ou fluxo de caixa? Dividendos são pagos em dinheiro, porém existem empresas que apesar de serem lucrativas, tem operações com necessidade de capital intensivo, que precisam de investimento em capital de giro para crescer, e usam o caixa produzido.
Sim, o fluxo de caixa é importante. Uma empresa com resultados positivos, no entanto, mesmo que reinvista a maioria do caixa no negócio, enquanto for crescendo o lucro, estará aumentando a sua capacidade de distribuir riqueza aos acionistas.
Para os tipos complicados de negócio, os quais tendo a evitar, o fluxo de caixa é essencial para a análise. Porém na vasta maioria dos casos, o lucro é um substituto plausível para o fluxo de caixa.
O lucro por ação dos últimos anos diz o que aconteceu no passado. Deve-se olhar para o lucro futuro quando o intuito é analisar a segurança do pagamento de dividendos.
Existem algumas opções para averiguar o lucro futuro:
- Direcionamento da diretoria da empresa;
- Consenso de investidores;
- Lucros atuais;
- Previsão individual (opinião própria);
Como qualquer previsão está sujeita a falhas, quanto mais informações e mais esforço for dedicado, melhor será o resultado.
Com o lucro futuro estimado, é possível calcular uma margem de segurança para variações no lucro que não resulte na queda dos dividendos.
Olhamos para a razão do payout, que é a porcentagem dos lucros que a empresa distribuiu como dividendo. Exemplo:
- A empresa teve 1 real de lucro por ação e pagou 62 centavos como dividendo, por papel. Seu payout foi de 62%. A margem então é calculada por: 100% – payout ratio = margem de segurança dos dividendos.
- No exemplo, 100% – 62% = 38%. Conclui-se que o lucro por ação pode cair até 38% que a companhia ainda poderá entregar o mesmo dividendo.
- Para completar, estime o capex de manutenção do negócio, ou seja, o capital que precisa ser reinvestido no negócio para que ele mantenha os níveis atuais.
2. Lucros estáveis o suficiente para cobrir os dividendos em meio a variações de curto prazo?
Nenhuma empresa, não importando quão conservadora ou defensiva, consegue gerar lucros perfeitamente estáveis.
O mundo real é dinâmico, e os principais causadores das variações que podem impactar nos dividendos são:
Flutuações na receita: mesmo que tenha uma barreira competitiva, todos os tipos de negócio têm flutuações na receita.
Alguns sofrem mais do que outros.
Numa recessão, uma fabricante de aço tende a sofrer oscilações maiores do que um vendedor de alimentos, por exemplo.
Em épocas otimistas o oposto acontece, onde indústrias cíclicas tiram proveito de crescimento maior.
Alavancagem Operacional: a estrutura de custeio de um negócio possui um mix de custos fixos e variáveis.
Os variáveis são ligados ao nível de produção e de receita. Para um vendedor de alimentos, se a receita cai, os custos do produto vendido também cairão.
Em contraste, os custos fixos são mais relevantes para a fábrica de aço, e causam um impacto muito maior nas margens caso a receita varie.
Alavancagem Financeira: Negócios com bastante dívida são obrigados a pagar juros periodicamente.
Os financiadores esperam ser pagos sem atrasos, indiferentes ao fato de os lucros operacionais serem altos ou baixos.
Como os juros não variam junto com a produtividade ou receita, eles se comportam como outro custo fixo.
Portanto, alavancagens financeiras amplificam o efeito da mudança da receita nos lucros.
3. Os lucros são duráveis o suficiente para cobrir os dividendos num futuro previsível?
Como discutido anteriormente, a estabilidade dos lucros de uma ano para o outro certamente é relevante quando o assunto é segurança do pagamento dos dividendos, especialmente para companhias que operam com níveis elevados de dívida.
Mas se estabilidade é relevante para a segurança do dividendo, durabilidade – que é a capacidade dos lucros médios cobrirem os dividendos no longo prazo – é muito mais.
Durabilidade implica que a empresa pode “apanhar” financeiramente em um ano e no ano seguinte “devolver” com um bom resultado.
Durabilidade implica numa corrente de lucros que, se não for previsível em um ano, pode ser confiável durante uma série de anos, nos quais as variações de curto prazo são excluídas da média.
Os itens a serem checados para a durabilidade são menos quantitativos e mais qualitativos do que os trabalhados ao analisar a estabilidade.
O primeiro é uma vantagem competitiva sustentável, também conhecida no mundo do value investing como “moat”.
Os moats permitem que uma empresa gere altos retornos sobre o patrimônio líquido, superiores ao custo do capital, ao longo dos anos.
Ao mesmo tempo, a vantagem competitiva blinda os lucros da companhia contra a pressão dos concorrentes.
No longo prazo, uma competição acirrada ameaça o fluxo de dividendos que antes parecia razoável, por isso ao escolher empresas pagadoras de dividendos, procure uma vantagem competitiva sustentável.
O segundo é uma demanda de longo prazo. Mesmo com a economia crescendo com o passar dos anos, algumas indústrias não participam dessa evolução e seus produtos podem se tornar obsoletos.
Um exemplo é o setor de telefonia, no início usavam-se telefones com fio, depois migraram para telefonia móvel, hoje em dia existem serviços variados de internet.
Mesmo o moat as vezes não deixando de existir, a demanda em queda resulta numa diminuição de lucros.
O terceiro é a liquidez. A liquidez de uma empresa – que é todo o dinheiro que ela tem, acrescido de todo o dinheiro que ela pode ter acesso a – é sempre relevante no pagamento de dividendos.
Lucro e fluxo de caixa vão flutuar de período em período, e acesso fácil a um montante de dinheiro ou acesso facilitado a crédito, ajudam a suavizar as variações.
4. A diretoria tem o desejo de manter o pagamento dos dividendos?
Por fim, um alinhamento de interesses no pagamento de dividendos deve existir com relação à diretoria da companhia.
As decisões tomadas, num nível hierárquico dentro da empresa, devem ser analisadas numa profundidade que evidencie a falta ou a existência de alinhamento com a distribuição de lucros.
Esteja sempre de olho no payout histórico da companhia e a possíveis mudanças na administração de um negócio.
Se sem um motivo compreensível, que se encaixe em alguns dos quesitos que foram abordados nos tópicos anteriores, a empresa decidir diminuir a porcentagem dos lucros que é distribuída, fique alerta.
Preste atenção a sinais de perigo que podem ser evidenciados pela diretoria.
Fontes de lucro não sustentáveis, débito excessivo, problemas legais, ou sucumbência a pressão interna ou externa.
O investidor, ao se empenhar e aplicar os quatro tópicos na análise de uma empresa pagadora de dividendos, desfrutará de uma decisão mais assertiva do que aquele que olha apenas o Dividend Yield.
- maio 2019
- 16 maio
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